segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Amar e aceitar não são, necessariamente, sinónimos

O diagnóstico chega e, no nosso caso, não é uma verdadeira surpresa, porque há muito sabíamos que algo "não estava bem". E aceitamo-lo, mas será que o aceitamos realmente? Exteriormente, aprendi a aceitar as diferenças do menino azul e luto contra quem vier pôr a sua felicidade e bem-estar em causa. Mas e cá dentro? Será que aceito real e incondicionalmente? Acho que é um caminho e que ainda o estou a percorrer, talvez todos os dias aceite mais um bocadinho, talvez não. Eu posso amá-lo incondicionalmente e não aceitar que o professor de natação o esteja a chamar para sair da piscina e ele continue a nadar alegremente. Mas pergunto-me, estou preocupada com a possibilidade de ele se envergonhar ou com a possibilidade de que eu me sinta envergonhada perante os olhares julgadores dos outros pais? Na verdade, ele não liga minimamente a esses olhares (por agora) e está no seu mundo a fazer algo que adora, mas onde estou eu? É esta luta interior de baixar as expectativas, ser realista, não exigir demais, mas ao mesmo tempo querer puxar por ele, rezar por progressos, aceitar as coisinhas do -ismo, revoltar-me com as coisinhas do -ismo...é esta luta interior diária que devasta. Estarei sempre a compará-lo com os outros meninos? Conseguirei alguma vez libertar-me das expectativas? Bem sei que todos os pais querem que os nossos filhos sejam bem-comportados, consigam fazer isto e aquilo, conquistem isto e aquilo, mas será que queremos por eles ou por nós? Para nos sentirmos bem enquanto pais, para podermos brilhar em conversas com amigos?

Sei que tenho de comparar o menino azul com ele mesmo. Como estava há dois anos, o que fazia o ano passado e faz hoje, o que evoluiu nos últimos meses. Sei que devo ficar feliz com as pequenas vitórias. Sei que devo alegrar-me quando ele navega pelo menu da box sem hesitar e sem um piscar de olhos. Sei que devo alegrar-me quando introduz expressões em inglês numa conversa, no momento certo. Sei que devo alegrar-me quando cede ou abdica de algo para ver o irmão feliz. E alegro-me, acreditem. Mas serão estas conquistas suficientes para calar esta voz interior? Sei que tenho um longo caminho a percorrer no processo de aceitação, só espero que não me faltem forças para enfrentar e saborear cada etapa.

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