terça-feira, 2 de agosto de 2016

Não toca piano nem fala francês

A sociedade tem vindo a criar expectativas face às crianças que nunca se viu antes. Têm de pertencer ao quadro de honra devido às suas notas, têm de saber tocar piano ou ser o próximo Cristiano Ronaldo e jamais se admite que não falem duas línguas aos 10 anos. Posso estar enganada, mas antigamente o que se pedia às crianças não era que fossem crianças? Tão somente isso? "O teu único dever é saíres-te bem na escola", não era assim o modo de pensar? O que aconteceu ao mundo, em duas décadas, que não aceita nada abaixo da excelência? As "pequenas" coisas já não são tidas sequer como conquistas, porque não são mais que a obrigação.

Pois nada como ter uma criança diferente para nos pôr as coisas em perspectiva. Ainda não consegui que tivesse uma actividade extra, um desporto, tentámos a natação, não resultou, tentámos a ginástica, não resultou e iremos tentar certamente mais, mas respeitando o seu ritmo. Enquanto outras crianças, aos 4 anos, já andam no ballet, no futebol ou no judo, o meu vai fazer 7 e ainda não frequenta nada. E então? Além disso, cá em casa celebram-se as pequenas conquistas que são, afinal, grandes!

Enquanto outras famílias inscrevem os filhos em campos de férias e ficam descansados com os seus filhos a fazerem escalada, canoagem, jogos da praia, eu fico feliz com o facto de conseguir estar a fazer um castelo na areia sem medo que ele me desate a correr areal fora (o problema actual tem sido querer ir cada vez mais longe na água, mas é mais controlável). Fico feliz que tenhamos ido esperar o tio ao aeroporto e tenha conseguido esperar quase uma hora. Sim, a meio tivemos de recorrer à electrónica, mas ainda assim uma vitória, visto que só dizia "está muita gente e as pessoas estão a encurralar-me". Fico feliz que tenhamos ido ao cinema pela primeira vez e tenha visto o filme todo, sossegadinho e interessado, apesar do escuro e, pior, apesar do som alto. Fico feliz que tome banho, se dispa e vista sozinho. "Não faz mais que a sua obrigação aos 7 anos", dirão alguns. Talvez, mas o esforço que ele faz diariamente para conseguir coisas, que os outros atingem naturalmente, tem de ser celebrado. Não digo que se baixem as expectativas, digo que prefiro criar crianças felizes em vez de perfeitas.

2 comentários:

  1. É isso mesmo, Partilho da sua opinião. Para mim o que importa é serem felizes e mais nada�� beijinhos
    Sónia

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    1. E essa parece ser a menor das preocupações, actualmente, não é? Mundo estranho este...

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