domingo, 7 de agosto de 2016

"O que há em mim é sobretudo cansaço"

Ontem chorei de exaustão. Depois de dois dias de correria em preparativos para a festa de aniversário do meu menino azul, quando finalmente lavei e arrumei tudo, senti uma descarga de adrenalina e energia a esvair-se de mim e não aguentei. "Como consegues?" perguntou-me uma amiga na festa "és doida em fazer isto tudo". Talvez. Mas que ele estava radiante e rodeado de sorrisos e amor, lá isso estava e isso faz com que a minha dor de pés e lágrimas de cansaço sejam meros detalhes sem importância. Porém, pôs-me a pensar. Acho que o meu estado normal, de há 7 anos para cá, é sentir-me cansada. Li, há dias, um estudo que comparava o stress vivido por uma mãe de autista ao stress de um combatente em batalha. Comparações à parte e mesmo sem contar com o "filho da mãe do -ismo", o cansaço abate-se sobre mim diariamente.

Começou logo com as licenças de maternidade de um mês apenas, por cada filhote. O trabalho a recibos verdes - e a necessidade de ter, isso mesmo, um trabalho - assim o obrigou, embora tivesse que lidar não só com o cansaço permanente, com as emoções e hormonas próprias do momento, com o facto de andar de bomba e geladeira atrás e com as brilhantes tiradas de outras "ai, se fosse eu não conseguia!", sim porque eu estava a fazer aquilo por puro prazer (leia-se a ironia)...Depois da ida precoce para o trabalho, tivemos as noites mal dormidas e isto durou até bem tarde, porque o menino azul sempre acordou muitas vezes de noite e sempre acordou bem cedo de manhã. Ora bem, o que veio a seguir? Ah sim, mais um filho. Porque sempre quis ter filhos com pouca diferença para brincarem juntos e terem mais cumplicidade, etc. etc. mas sem perceber na totalidade o outro lado da questão: ter dois "bebés", praticamente, mas sem serem gémeos, logo ainda dependentes mas em fases diferentes, um fartote, portanto. Juntamos a tudo isto a profissão que tenho, e sempre desejei ter, e contamos com aulas para preparar, testes e trabalhos para corrigir e tudo pro bono, porque o recibo verde só paga a aula, pois claro. Mais uma pitada de stress até se conseguir um diagnóstico e mais o stress para interiorizar o diagnóstico recebido. Não falemos nas tarefas domésticas, que essas estão sempre à espreita e não se fazem esquecer. E ainda tenho quem me pergunte "Então para quando o lançamento do terceiro livro?", ao que respondo sarcasticamente "primeiro tenho de o escrever".

Respondendo à minha amiga, nem eu sei como consigo, mas não sou especial nem mais forte por o conseguir, porque também eu sigo o caminho a improvisar, com um sorriso nos lábios, mas com muitos momentos de lágrimas solitárias. E se ando sempre de mãos ocupadas, deviam ver o meu coração...esse transborda de amor.

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